sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Era mais que um "Drama"


Eu era uma garota normal, me divertia fazendo coisas simples.  Eu não tinha muitos amigos, na verdade mesmo, ninguém tem. Eu não era linda e maravilhosa, eu era apenas ok. No meu passa tempo, eu gostava de ler, escrever e tirar fotos de paisagens, aliás elas diziam muito sobre mim. Mas na verdade, ninguém me conhecia tão bem. Eu era do tipo que mais observava do que falava, o que fazia eu ter muitos pensamentos dentro de mim.
Como toda garota, tive minhas decepções amorosas. O primeiro namorava comigo e estava com outra, ou eu seria a outra? Descobri uma vez indo no cinema sozinha, havia um casal no "fervo" e não demorou muito para eu perceber quem era o rapaz. Depois disso, simplesmente não atendi mais ligações e nem respondi mais mensagens. Não ia gastar palavras da minha boca pra relembrar tal fato para ele, então eu sumi, foi mais fácil. O segundo, tudo na vida que estava ruim era culpa minha, além de ter atitudes infantis. Eu já era uma mulher e não precisava de alguém infantil, isso não me acrescentaria em nada e tempo era uma coisa que eu não podia perder.
Eu não estava feliz com minha profissão, apesar de executar bem minhas tarefas. Quando jovens, somos imaturos para escolher alguma profissão para atuar o resto da vida e talvez eu tenha me precipitado e acabei errando a profissão. Mas isso não tinha mais tanta importância, todos estavam felizes com o meu trabalho.
Os dias passavam rápido demais. E eu nunca descobri se o tempo era meu amigo ou meu inimigo, aquela dor que eu sentia, aquele vazio, não iam embora nem com esse tal tempo. E diziam que esse era o remédio da vida. Por incrível que pareça, descobri que o único remédio era outra coisa. As situações foram ficando difíceis, problemas no trabalho, provas e muitos trabalhos na faculdade, problemas de família e o coração vazio. Podia ser só uma fase, é o que dizem, mas para mim ela parecia eterna.
Todos que me conheceram um pouco mais, meus pais, meus irmãos, meus amigos e meus exs namorados, todos sem exceção me chamavam de dramática. Uns diziam que era até frescura minha, que era muito drama pra pouca pessoa. E que eu tinha que agradecer mais. Na verdade era o contrário, eu agradecia só que ninguém percebia. 
Me chamavam pra sair ou fazer qualquer outra coisa, e minha única vontade era permanecer deitada na minha cama, com a companhia de um bom travesseiro e nada mais. Ninguém mais me entendia, e eu não queria mais explicar, não precisava, eu já sabia o que estava sentindo, e isso já me bastava.  Dormia a maior parte do tempo, claro que os meus remédios colaboravam para isso, dormia pois assim eu esquecia da vida e dos problemas e ah os dias passavam mais rápido também. A vontade de permanecer alí era maior do que me encorajavam pra sair de lá.
Tudo, absolutamente tudo estava pesado demais, acordar todos os dias era uma luta sem fim, ninguém percebia. Eu até queria sair daquilo, era um sufoco, uma prisão de pensamentos loucos, ruins, medos, fracassos, injustiças, angústias e mágoas. Era um mar de sentimentos ruins. E eu não conseguia mais ver graça em nada, até um pote de sorvete pra mim não fazia mais sentido.
Eu não conseguia ser mais aquela que todos conheceram, sorridente. Então me afastei, pois não queria que ninguém visse que eu mudei, tinha medo delas não gostarem do meu novo eu, e eu sei que não iam gostar. Era uma luta diária sair de casa e dar meios sorrisos por aí, mas isso já era um grande avanço, pode apostar.
Tive que enfrentar as coisas sozinhas, chorei sozinha tantas vezes. E eu sempre dizia que estava tudo bem, guardava para mim mesmo, pois não queria atrapalhar ninguém com tanto “drama”. Era mais fácil dizer que estava tudo bem do que tentar explicar o porquê não estava. Era mais fácil mentir e omitir do que ouvir preocupações falsas das pessoas.
Nos tempos de hoje é difícil achar pessoas com empatia. E ninguém se colocava no meu lugar. Ninguém via o esforço que eu fazia para levantar da cama e sair com um sorriso pelas ruas mesmo que falso. Eu podia estar rodeada de pessoas, e mesmo assim eu me sentia sozinha, talvez essa seja a pior solidão.
Tudo estava me sufocando. E foi ai que eu resolvi dar um fim nisso tudo, eu já não estava mais aguentando. Mas afinal, não se preocupem....agora está tudo bem. Não tinha nada de muito errado comigo e nem com minha vida, o único problema é que eu era dramática demais e tudo não passava de um “simples drama”.

Ass: Dramática.

Tatiane Konishi

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Fazia tempo que eu não escrevia, os textos que ando postando são bem antigos. Mas resolvi escrever esse texto para a conscientização do Setembro Amarelo, uma campanha sobre a prevenção do suicídio não só no Brasil, mas ao redor do mundo. Com o objetivo de alertar a todos a respeito dessa realidade. Afinal, não é uma brincadeira, é uma coisa muito séria.
#setembroamarelo

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