Ostentação nos dias de hoje não é tomar espumante
na beirada da praia, ter o carro do ano, um Red Label na mesa da balada, muito
menos grana de sobra para viagens exorbitantes fora de época. Ostentação hoje
em dia é ter um parceiro, um namorado, um noivo, um peguete fixo, um
marido. Alguém para “fazer jus” aos recentes 35 anos sem ter preenchido os
padrões da sociedade de casamento e filhos, para acabar com a ladainha familiar
de “vai ficar para titia”, ou simplesmente uma pessoa para tornar menos deprimente
a chamada preguiçosa dos domingos a noite na TV. Luxo é ter alguém para exibir
a tira colo como se fosse um pavão vaidoso tentando se sobressair socialmente,
independente se nos últimos 2 anos de namoro você não se lembra da última vez
em que trocaram um beijo na boca demorado e realmente apaixonado. Se você
esbanja para todos os ventos as rosas que ganhou pelo décimo aniversário de
namoro, sem sentir uma cosquinha que seja do lado esquerdo do peito pela pessoa
que te enviou, sinto lhe dizer que seu relacionamento não é amor, é farsa.
Se relacionar não é mais sorte, dedicação e
merecimento. Anéis de compromisso, status de relacionamento nas redes sociais e
o codinome “amor” na lista de contatos do celular viraram artigos de barganha,
ao invés de orgulho. A foto tirada para eternizar uma ocasião, perdeu o sentido
de recordação no exato momento em que a pose perfeita foi programada para se
obter o maior número de likes. O beijo na boca, o sexo, o carinho, as pernas
entrelaçadas logo pela manhã não se justificam se a rotina só se repete pela
“obrigação conjugal” e não porque ambos querem estar ali de corpo e alma
presentes. Daí me pergunto quantos desses exibicionistas estão realmente
felizes por dentro. Quantos estão completos, emocionalmente íntegros e de fato
com a alma sorridente. O amor deixou de ser amor, ou a gente que distorceu
completamente o sentido dos relacionamentos?
Quando a gente olha para o lado e não se identifica
mais com aquela história, aquele enredo, aquela travessia a dois, está
definitivamente na hora de ir embora. Porque não faz sentido nenhum permanecer
em um relacionamento por comodismo, por acreditar que o mundo está com falta de
opções, por puro medo da solidão. Números são apenas números. Conheço casais
que namoraram por anos e o casamento não vingou. Vinte anos de namoro não
querem dizer absolutamente nada se o seu relacionamento não expressa o amor
maduro que tanto tempo em comunhão deveria ser capaz de traduzir. Parabéns
pelas suas bodas de sorvete, algodão, ou de prata. Mas o que exatamente você
está celebrando? O fato de nos tempos de hoje, em que as coisas são
particularmente difíceis para os enamorados, você ter a sorte de esbanjar um
companheiro (a)?! Ou você está sim comemorando anos de parceria, cumplicidade,
zelo, cuidado e um amor que evoluiu delicadamente ao longo de todos esses anos?
As pessoas se esquecem de quais são os reais
motivos de se estar ao lado de alguém. Assim como sair pela porta, ficar é uma
escolha. E deve ser uma escolha diária, consciente, que é para se sentir um
sortudo todos os segundos, hoje, amanhã, daqui cinquenta anos e não apenas nas
datas especiais. A gente fica junto porque gosta da paz e do tormento que o
outro provoca, da intimidade que só aumentou ao longo da convivência, do sexo
que se tornou mais prazeroso, porque existe respeito mútuo e uma compreensão
mais acurada dos defeitos do outro. Qualquer razão que caia longe dessas
premissas simplesmente não é um motivo para se estar ao lado de alguém. Mais
importante do que aprender a ficar sozinho, é aprender quando uma história, por
mais linda que seja, já chegou ao fim. E parar de acreditar na ideia errada de
que foram muitos anos de vida perdidos ao lado de uma mesma pessoa. Muita coisa
se ganhou, inclusive o discernimento para entender que continuar talvez não
seja a melhor opção para a vivência de ambos.
Se você tem “a sorte de um amor tranquilo com sabor
de fruta mordida” delicie-se, lambuze-se, aproveite o sumo desta fruta até o
caroço. Agora, se o que era doce azedou e o manjar passou do ponto, não dá pra
ter medo de testar uma nova receita. A gente se apega ao medo, à dificuldade
das amigas solteiras em encontrar alguém bacana, ou às histórias dos caras do
trabalho que não foram valorizados por suas investidas dignas de cinema, e
esquece que se fosse pra dar certo com qualquer um se chamaria chaveiro e não
encontro. Vai ser difícil sim, vai apertar o peito sim, vai dar vontade de
jogar tudo para o alto e voltar atrás sim, mas passa. A gente sabe que passa. O
que não passa é o arrependimento de permanecer anos a fio ao lado de alguém,
sendo que o passarinho do amor já bateu as asas livre para um novo acaso faz
tempo.
Ostentação mesmo, no grosso da palavra, é não
precisar exibir absolutamente nada e ainda assim se ter a certeza de que é
amado e desejado no abrigo do nosso próprio coração. O que importa não é o que
o resto do mundo pensa de você, mas sim o que você faz com que o resto do mundo
pensa de você. Ninguém vai chorar a sua dor se lá na frente você acordar casada
(o), triste e infeliz ao lado de um grande amigo, e não mais de um parceiro de
vida. Quando se trata de comodismo, antes tarde do que eternamente arrependido.
Danielle Daian
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